terça-feira, 19 de abril de 2011

Sentei nos cantinhos da sala, pra ver se eles ainda guardavam algum resto de memória.
Mas do que eu queria lembrar eu já tinha me esquecido, e tudo o que eu achei foi um pouco de pó. E a sala. Ainda vazia com um pouco de mim nos cantos.
Sinceramente, às vezes torço para que nada tenha mudado, para que eu tenha sido a única a evoluir de nós dois.

Pois imaginar que você também mudou me assusta.
 Mudaria em que grau e sentido?
Se mudou, e se um dia você voltar a me ver poderia ser capaz de me dar um tiro ou um abraço.
Poderia ser capaz?
Acho que um abraço me assustaria mais, o tiro, eu sei, soa muito dramático, vou pensar em outra coisa menos mortal e igualmente violenta.
Porque um detalhe muda tudo? Quando não devia, e se devia, deveria ser pra construir, não destruir.
Mesmo que a gente cresça com tudo isso e hoje talvez eu seja mais eu e menos você, no melhor sentido já que é sempre assim quando tudo acaba.
A gente morre um pouco a cada fim.
A gente morre um pouco junto e ficam miasmas de nós mesmos vivendo os restos do não vivido. E às vezes a gente vai lá ver como eles estão.
Estão sempre mal.
Afinal, não há vida nos “não vividos”, somente sobrevida.
E de sobrevida não quero nem as lembranças. Porque a gente lembra diferente a cada vez. A gente lembra errado.
Faria sentido se a gente se esquecesse completamente como naquele filme (da Kate Winslet com o cabelo laranja e o Jim Carrey sério e uma participação do Frodo, não lembro o nome) e se reencontrasse diferentes, limpos de nós do passado, para nós dois de agora?
Ou como 5 vidas que eu tenho no videogame, para refazer o mesmo percurso como se antes eu não o tivesse feito, sabendo que conheço o caminho e os perigos a serem evitados? E se ainda assim, sendo honesta comigo mesma, eu não pudesse ter feito um caminho diferente? Mesmo que eu não salve a princesa no final.
Ainda não tinha motivos para fazer.
Eu sempre prefiro jogar com o Luigi, porque ele é verde e me parece óbvio que é melhor jogar com ele. Jogar com o vermelho me dá azar, eu acho. É um detalhe que pra mim faz toda diferença. No fundo não dá pra saber se teria sido diferente.
 Acho que se a gente não vive de lembranças a gente vive no fantasma do “e se”?

E se eu fosse daltônica?