quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Malboro Light

 
Se encontraram, como se houvessem marcado local e horário. Mas não. Se encontraram daquele jeito, por acaso, quando você cansa de procurar e na hora que você encontra já parece tão tarde que não faz mais sentido o que você encontrou, e sim que achou alguma coisa.
Qualquer coisa.
 Alguém.
A fumaça do cigarro dela esquentava um pouco aquele ar frio que os rodeava. Aquele ar frio de solidão. De madrugada já cansada de existir.
A música alta, mesmo distante, alcançava seus ouvidos, e embora eles tivessem esquecido que uma música tocava e que alguns festejavam, ou fingiam festejar algo no quarteirão ao lado, a música chegava feito sombra... Feito trilha sonora.

Ele a olhou de longe enquanto caminhava e sentiu vontade de se aproximar quando viu que ela o olhava quase sem piscar. Segura. Calma.
Sentou ao seu lado na guia.
Ele pediu um cigarro, embora não fumasse, pois desde que a viu ficou com vontade de ter algo na boca.Ela percebeu que ele não fumava, pois sorria ao olhar seus lábios com cigarro apagado.
_É que eu não fumo.
_Nem eu. –falou ela, rindo.

E então perceberam que não tinham assunto. Seus olhares se cruzavam tímidos em alguns momentos e uma cumplicidade brotava dali.

_Eu tô esperando...
_Eu também. – ele interrompeu .
_ ...a festa acabar. É que eu to de carona, sabe. E você?
_Eu o quê?
_Tá esperando também, não tá? Você falou que tava.
_É. Tô, acho.
_O quê?
_Não sei. Me dar vontade de voltar pra casa, eu acho.
_Você mora por aqui?
_Moro, na rua de trás.
__E sempre anda sozinho de madrugada e conversa com estranhos?
_Não. Mas hoje eu quis. Hoje eu quis sofrer do lado de fora do muro.

E se olharam em silêncio por um momento. E aquele momento foi se transformando em tempo, mas eles não se importavam, queriam ficar ali, se olhando, com o silêncio que era amigo naquela hora.

_Porque você fuma? –perguntou ele.
_Eu não fumo. –respondeu ela entre um trago e outro.
_Então me faz um favor. Apaga esse cigarro.
Sem questionar ela obedeceu, como se já esperasse por essa ordem de alguém, e esse alguém foi ele. Depois pegou outro e pôs na boca, apagado. E ficaram os dois, com cigarros apagados entre os lábios. Olhando o céu, contemplando mais um silêncio. Por quase uma hora.

_Eu gosto dessa música. –disse ela, quando a música parou,e ele riu.
_porque tá rindo? –continuou.
_Não sei, deu vontade.
_Você tem dentes bonitos. – disse ela,e ele riu de novo.
_Que elogio mais besta, ninguém elogia dentes.
_Eu elogio. –disse, com o cigarro entre os dedos. _E ninguém fuma cigarros apagados.
_Eu fumo. E a partir de hoje, acho que você também.
_Como você sabe? –disse ela, depois de um riso curto, que tentou fazer irônico, mas não conseguiu.
_Porque eu vou tá perto, pedindo pra você apagar.

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